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sexta-feira, 11 de junho de 2010

Cicatrizes

É difícil em um mundo de hoje, onde a mídia impõe à sociedade um estereótipo de pessoas surreais, você olhar para o seu corpo e estar 100% feliz.
Todos os dias, tenho que olhar e cuidar de uma cicatriz de 20cm deixada no meio da minha barriga entre o umbigo e a marca do biquíni.

Eu não vou ser hipócrita ao ponto de dizer que não quero um corpo de modelo, e que uma cicatriz dessa não me assusta e incomoda toda vez que paro diante o espelho.
Mas, é preciso saber que existem outras coisas tão mais importantes na vida do que isso.
Quando você passa por uma situação que te deixa uma marca, a lição que vem junto é recompensadora.

Dói até você acertar o lado certo, mas é o que dá ainda mais valor.

Em 2006 descobri que meu apêndice estava colado em minha bexiga, isso depois de uma cirurgia de 4hrs, pois o danado não aparecia nos exames.

Foi quando descobri que qdo temos amigos somos bem tratados, caso contrário vc pode até morrer em um hospital.
Vi minha avó dormir debruçada nas minhas pernas enquanto dormíamos, ela sentada em uma cadeira, eu em uma maca esperando os médicos trocarem os presentinhos do amigo secreto do fim de ano no Hospital Guilherme Álvaro, aqui em Santos.
Vi minha tia-madrinha chorar feito criança quando entrei no centro cirúrgico, sem saber o que eu tinha e se iria voltar.

Lembro que quase desmaiei ao ver meu curativo cair no meu primeiro banho após a cirurgia, chorava por me ver daquele jeito, logo após eu ter assinado um contrato de modelo com uma agência de São Paulo.

Anos se passaram e eu ainda vivia enfiada em uma academia, eram no mínimo 2hrs por dia, todos os dias da semana à pocura do corpo perfeito (sabe lá pra quem) pro Carnaval do ano que viria.

Em Novembro de 2009 tive que operar mais uma vez devido à uma obstrução intestinal.

Exceto a dor que eu sentia, e da vontade absurda de vomitar tudo o que entrava pela boca, lembro de poucas coisas, que oscilavam na minha cabeça, acho que qdo não era uma alucinação por dor, era por remédios.
Assim que fui acordada no centro cirúrgico me assustei com todos os canos que tinham, chorei, mas logo voltei a dormir.

Quando tomei minha consciência iam me dar um banho no leito, pois não podia levantar e já era hora do banho.
Não conseguia mover muito minha cabeça, era um pouco de dor com um pouco de paralisia, mas sentia cada coisa no meu corpo que estava fora do lugar.

Foram 15 dias de internação, e a lição que levei de cada um deles não tem preço.
No meu quarto tinham mais 6 mulheres, e meus problemas eram ridículos perto de cada uma delas.

Não nos preocupávamos com roupas de marca, nem tínhamos celulares de última geração, nossos corpos nem era os das modelos “perfeitas” das revistas.
Nos tornamos amigas pelo que somos, nos apoiávamos uma na outra, dividíamos palavras de otimismo e uma se apoiava na outra para passar essa fase.

Vi quantos amigos tenho para me apoiar qdo preciso, mesmo os de mais longe, se faziam estar bem perto.
Redescobri o amor de duas mães que me amam pelo que sou, vi minha irmã crescendo pessoalmente com tudo isso, e o meu companheiro de jornada que vinha com seus sorrisos lindos e sua barba grande, guardando atrás de tudo isso uma dúzia de medos.

Nenhum dinheiro no mundo paga cada lição que tive que aprender, nenhum pedaço de papel irá voltar para traz minhas evoluções.